Hoje aconteceu algum muito ou pouco extraordinário. Quando vinha para casa dois senhores abordaram-me a procurar indicações para os correios. Depois de dar as indicações, dou por mim com uma outra pessoa a falar comigo. Tiro os fones onde a música me permitia abstrair do mundo real e me livrava da solidão, e deparo-me com alguém genuinamente preocupada comigo... Uma senhora já de meia-idade, questiona-me relativamente à conversa que aqueles dois homens tinha tido comigo. Ela diz-me que temos de ter cuidado, porque "..." algo que eu não percebi bem, porque ainda tinha um dos fones nos ouvidos, mas percebi que ela tinha reparado que eles tinham já feito alguma coisa a alguém no caminho até ali. E diz-me uma frase muito curiosa "Temos de ser umas para as outras não é?".
Pois bem, foi uma atitude que me espantou. Hoje em dia vivemos numa sociedade assumidamente egoísta, solitária e não solidária. Não sei como é que hoje tive o privilégio de receber um gesto destes. Quantas pessoas se preocupariam com outra que não conhece? Que não lhe é nada? Quantas pessoas inverteriam se vissem algo de errado a acontecer? Não estou a dizer que esta pobre senhora indefesa fosse intervir numa situação dessas, mas que mostra muito do seu carácter mostra intervir mesmo que seja em algum não grave mas que se poderia ter tornado...
A pergunta que me ficou foi se seria eu capaz de fazer isto? De intervir como esta senhora? Ou se visse alguém a ser assaltado...
Eu como tantas outras pessoas sabemos toda a teoria, sabemos tudo aquilo que devemos e não devemos fazer. Mas quando chega a altura de agir, de deixar as palavras de lado e de passar à ação, não somos capazes, não temos coragem para dar um passo tão grande como este. Porque será? Porque será que nós somos assim? Com tanta falta de sentido de solidariedade, de entreajuda. Com tão pouca coragem para nos chegarmos à frente, para impor-mos as nossas ideias, os nossos ideais, para esclarecermos o que não está claro.
Não entendo como é que o ser humano se tornou num ser tão pouco humano. Como é que a nossa geração está e continuará tão reles?
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